Tanque d’Arca, a antiga Pastos Novos
O livro História de Anadia, de Nicodemos de Souza Moreira Jobim, é, sem dúvida alguma, a fonte mais importante para se conhecer como surgiu e os primeiros anos da existência do povoamento que deu origem ao atual município de Tanque d’Arca, em Alagoas.
Publicado em 1880, o livro adota, estranhamente, uma grafia diferente para o local. No capítulo “Descrição Topográfica”, o autor cita, por várias vezes, a existência em Anadia do povoado Tanque d’Aca, e não Tanque d’Arca. Seria uma variação linguística da época ou erro da composição tipográfica?
O importante é que identifica a existência ali do riacho “Caxoeira ou Tanque d’Aca” e, ao descrever as “Nascentes e confluentes do rio S. Miguel”, destaca o “rio Caxoeira na povoação de Tanque d’Aca, que nascendo na serra deste nome oferece uma água límpida, de sabor fresco e agradável, e em todo leito caldeirões de pedras naturalmente formados com assentos próprios para banhos; rodeia a povoação e desemboca 2 léguas abaixo no sítio denominado Várzea do Sacco”. É um tributário do Rio São Miguel.
A mesma publicação também anota, entre os engenhos então existentes em Anadia, o Tanque d’Aca e o Tanque Escuro, além da povoação de Tanque de Pedra, dando relevo à utilização dos Tanques nos topônimos. Seriam os tais “caldeirões de pedra”, também conhecidos como poços em outras regiões?
Outra informação importante para identificar a origem do município foi fornecida no capítulo “Memorial Biográfico de Manoel Rodrigues da Costa”, cidadão que chegou a Anadia em 1802, procedente de Penedo. Em 1826 seu nome foi proposto para capitão da 1ª Companhia “colocada em Pastos Novos, hoje Povoação de Tanque d’Aca…”.
O Almanak do Estado de Alagoas de 1874 também contribui ao informar que Tanque d’Arca tinha naquele ano 30 casas e 140 habitantes. Segundo Nicodemos Jobim, em 1880 eram 130 casas e o povoado já era “o primeiro ponto comercial [do município de Anadia] pela feira criada aos cuidados do major José Dias da Costa e o negociante João Augusto Grem, tendo lugar a sua primeira reunião em 10 de maio de 1873. Situada a Nordeste da vila [de Anadia] 6 léguas distantes com uma capela e cemitério de alvenaria”.
Esse cemitério de pedra, edificado em 1856, foi instalado sob a orientação do tenente-coronel Imbuzeiro. O pequeno sino foi doado por Nicodemos Jobim em 27 de dezembro de 1876.
A capela de Tanque d’Arca foi fundada em 1860 sob a invocação de N. S. Mãe do Povo e graças aos investimentos do major José Dias da Costa e seus irmãos. Foi demolida em 1880 e uma nova capela foi erguida num local mais alto. A Santíssima Virgem, que foi doada por D. Anna Dias, ficava sob a guarda do alferes Péricles Dias da Costa, que a levava ao oratório sempre que os poucos devotos desejavam rezar o terço.
Também havia culto religioso no lugar conhecido como Limoeiro de Tanque d’Arca, onde existia um pequeno nicho sob a invocação de N. S. da Conceição, erguido por Manoel Pereira em 1870.
O primeiro registro histórico sobre o desenvolvimento da povoação ocorreu em 28 de setembro de 1860, com a nomeação do primeiro subdelegado, o major José Dias da Costa. Seus suplentes eram o capitão Américo Brasileiro da Costa Ouricury e o alferes José Pereira de Souza. Essa indicação somente ocorreu por ter sido Tanque d’Arca promovida a distrito policial.
Outro acontecimento que expõe o progresso do lugar ocorreu com a criação da cadeira para a primeira professora da povoação, oficializada pela Lei nº 327 de 23 de abril de 1858. Lamentavelmente, não chegou a ser provida e foi suprimida em 6 de julho de 1861, em virtude da Lei nº 370.
Em 1891, o Almanak do Estado de Alagoas relacionava Tanque d’Arca como um dos povoados mais habitados de Anadia. Os outros eram Tapera, Mar Vermelho, Pindoba e Santa Rita.
Naquele ano, as lojas de fazendas ali estabelecidas tinham como proprietários Angelo Antonio Alescio, Carlos Luiz de França e Ladisláo da Rocha Guedes. Os Secos e Molhados eram comercializados por Francisco Martins de Almeida, Joaquim Correia Lima, José Pedro Telles, Romoaldo José da Silva Ramos e Themoteo Luiz de França.
Gesival Fonseca, em seu livro “Tanque D’arca e sua gente”, conta a lenda que deu origem ao nome do lugar. Durante uma disputa entre os primeiros moradores e um grupo de ciganos, houve troca de tiros e as arcas que eles carregavam foram atingidas e caíram no chão, próximo a uma fonte d’água aos pés de uma frondosa árvore. Assim, quando se buscava água nessa fonte, se referia a ela como o tanque d’arca.
Segundo esse mesmo autor, vieram do sertão pernambucano as famílias pioneiras que ali se estabeleceram. Manoel Vitorino, Manoel Barbosa e João Alemão construíram as primeiras moradias onde existem as ruas Vereador José Garcez, Hermani Almeida e o Sítio Carrapato. Em seguida também ali se fixou Francisco Gren. Foram estes os que iniciaram o plantio da cana de açúcar, atividade econômica que atraiu muitos trabalhadores, ampliando o primitivo núcleo urbano.
Logo também cresceu a produção de algodão, forçando a instalação de um descaroçador e a construção dos armazéns para a estocagem desse produto e dos cereais.
Na revista de junho de 1907 do então Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano, Francisco Izidoro faz a descrição do município de Anadia e anota a existência do riacho Tanque d’Arca e explica que a Serra do Lunga “nas extremidades toma o nome de Canudos e Boqueirão”, no centro é a Tanque d’Arca.
Também cita que Anadia tinha então três juízes distritais, um na sede e os outros em Pindoba e Tanque d’Arca, onde também tinha uma cadeira de instrução primária e era um dos povoados mais importantes até pouco tempo antes: “atualmente [1907] está decadente e o seu comércio fraco. Tem uma capela sob a invocação de N. S. Mãe do Povo, bastante estragada”. A lavoura era variada, destacando-se a do fumo e do algodão.
Do lento desenvolvimento do povoado pode-se destacar instalação da energia elétrica somente em 23 de janeiro de 1926, inaugurada com a presença do governador Costa Rego. Era fornecida pela Empresa Santa Laura, de propriedade do Coronel Chico Euclides. Em 10 de fevereiro de 1927, Costa Rego voltou ao lugar para inaugurar a estrada entre Tanque d’Arca e Mar Vermelho.
No final da década de 1950, algumas lideranças do então distrito de Tanque d’Arca, tendo à frente Paulino de Oliveira Barbosa, iniciaram o movimento por sua emancipação. Esse pleito foi transformado em Projeto de Lei na Assembleia Legislativa do Estado por proposição do deputado Herman Élson de Almeida, com apoio do deputado Mendes de Barros.
A emancipação política foi conquistada com a publicação da Lei nº 2.507, de 1º de dezembro de 1962. A instalação do novo município somente ocorreu em 24 de janeiro de 1963. O seu território foi desmembrado do município de Anadia. No ato de instalação, que contou a participação do governador Luiz Cavalcante, foi empossado o primeiro prefeito de Tanque d’Arca, José Martins Dantas.
Após sua emancipação, o lugar entrou em nova fase de desenvolvimento, recebendo o serviço de abastecimento d’água e a eletrificação com energia da Chesf, esta nos últimos dias de 1968.
Continuou por muitos anos relacionado entre os menores município de Alagoas. Para se ter uma ideia, em 1965 tinha apenas 343 eleitores. No ano seguinte eram 516.
Atualmente, além de manter a produção de cana-de-açúcar, também mantém expressivo rebanho bovino.
COMENTÁRIOS